quinta-feira, 21 de abril de 2011

A pessoa era _ e não é mais. Só o nome ficou _ Sônia. 'Lembra-se, Sônia dizia...' 'Um vestido como aquele da Sônia...' 'Você vive assoando o nariz, igual à Sônia...' Depois morreram também as pessoas que diziam isso, e na cabeça só me ficou um rastro da voz, incorpóreo, como que sainda da goela negra do bocal do telefone. Ou súbito se descortina, como se fosse no ar, qual nítida fotografia viva, uma sala ensolarada, risos em volta da mesa posta, com jacintos num vasinho de vidro sobre a toalha, também enroscados em recurvos sorrisos rosados. Olha depressa, enquanto ela não se apaga! Quem é que está aqui? Está entre eles alguém de quem você precisa? Mas a sala luminosa já treme e se desvanece, e já ficam transparentes como gaze as costas das pessoas sentadas, e com espantosa velocidade, desmanchando-se, voa para longe o seu riso _ quem é que vai alcançá-lo...
Não, esperem, deixem-me examiná-los! Fiquem sentados onde estavam e digam seus nomes, pela ordem! Mas são inúteis as tentativas de segurar as recordações com desajeitadas mãos corpóreas.


Tatiana Tolstaia






A memória é a matéria do Nhemaria: os momentos que vivemos e que nos escapam, mas que permanecem e se perpetuam quando compartilhados, quando então deixam de pertencer apenas a quem os viveu, para pertencerem também a quem os recebe como histórias. A beleza de contar, ouvir e criar, através do teatro, outras narrativas...

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